A Tua Vontade é a Tua Vitória

28.9.08

Nova Lisboa - A Cidade

  Cidade virada para o progresso, onde não faltam monumentos e jardins e onde todos os dias se levantam novas estruturas para novos prédios. A característica desta cidade é a falta de movimento. É muito pacata, uma cidade onde a limpeza impera e embora não tendo praias tem outras belezas nos morros que a circundam.

  Escrevi isto sobre Nova Lisboa em 1973.

  A ideia inicial quando conheci Nova Lisboa, era de uma cidade pacata demais para o meu gosto habituado ao bulício da cidade de Luanda. Meses mais tarde não queria outra coisa. Apaixonei-me por esta cidade.

  Nos fins-de-semana, quase sempre, hospedava-me na «Pensão Mimo», creio que se situava perto de umas bombas de gasolina numa rua paralela ao Ruacaná. Depois com o tempo passava-os no Hotel Turismo. Lembro-me de me levantar, ir para a varanda do Hotel e sentir o pulsar da cidade a “acordar”. O tempo, esse, era magnífico. Ao contrário do clima de Luanda quente e húmido, em Nova Lisboa o tempo era fresco e quase sempre havia uma neblina matinal e como eu gostava de sentir o fresco da manhã ali naquela varanda.

  Os cinemas a que ia frequentemente eram ao “Ruacaná” e ao “Cine Estúdio 404” (dizia na altura que era mais ou menos o estilo do Cinema S. Paulo no Bº S. Paulo – o meu bairro - em Luanda). Francamente 34 anos passados já não sei situar esse cinema em Nova Lisboa.

  A melhor casa de modas, a “Nova York”, com diversas secções cada uma apresentando os seus artigos (escrevi que eram como os “Armazéns do Minho” da baixa de Luanda).


  Um jardim que muito frequentava era o Jardim da Praça Salazar perto do Ruacaná onde passava horas a ler (comprava os livros na “Livraria Lello”), onde haviam umas árvores que “pingavam”. Um camarada disse-me que eram conhecidas por “árvores choronas”. Choronas ou não, era um jardim muito bonito, como eram quase todos os jardins desta cidade, com uma fonte, a «Fonte Luminosa», com um espectáculo de luzes ao anoitecer.


  O Restaurante que muito frequentei, estava situado mesmo em frente a este jardim, era o “Koringas”. Ali tomava as minhas refeições.

  Também fui algumas vezes até ao Restaurante “Imbondeiro”.

  “Se alguém passar a vosso lado e vos segredar em vós de desânimo procurando convencer-vos de que não podemos manter tão grande império expulsai-os do convívio da Nação”.

  Palavras de Norton de Matos fundador da Cidade de Nova Lisboa, que se encontravam inscritas na coluna do monumento a ele dedicado na Praça Manuel Arriaga.   As figuras de mulher esculpidas no monumento representam um dado atributo ao fundador desta cidade: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança.


  Em frente ao monumento eram os Correios (belo edifício).

  Na imagem em baixo do lado esq., uma escola do Ensino Secundário na Rua 5 de Outubro rua que nos levava ao Ruacaná. No jardim, no lado dto, havia uma Gelataria chamada “Veneza” onde os estudantes esgotavam o stock de semi-frios rapidamente. Havia também o Himalaia onde, além dos gelados, tinha um bom vinho verde e muitas imperiais lá bebi.


  Haviam dois mercados Municipais, um na cidade Alta com uma arquitectura moderna...


  … E um outro mais antigo na Praça Vicente Ferreira (com um Monumento muito bem conseguido). Um mercado bem mais pequeno e com poucas bancas de venda no seu interior.


  Havia uma piscina do “Club” du Chemin de Fer como diz aqui o meu postal, ou seja, a Piscina do “Ferrovia” piscina que nunca frequentei. Já bastavam os banhos na lagoa lá no quartel.


  Nova Lisboa era uma cidade jardim. A Estufa-Fria perto do jardim Américo Tomás era de visita obrigatória e eu, claro, estive lá.


Com alguns camaradas em frente à Estufa.


  Bairros de Nova Lisboa tinham nomes de Santos, S. Pedro, S. João (este muito conhecido). Outros eram o Bº do Benfica, S. António, Académico, do C.F.B., Cavalo Branco mas um dos Bairros que me lembro bem era o Bº Bom-Pastor perto do Mambroa (campo do Benfica do Huambo). Perto do bairro havia um bosque frondoso com pinheiros onde corria uma brisa fresca e suave (escrevi isto na altura). Era ali que muitas vezes a tropa descansava a “piquenicar”. Faço referência também ao “Estádio de Cacilhas” no Bairro do Cacilhas, foi lá jogar o Boavista em 29 Abril de 1973.   Fazia-se por lá, uma feira onde a diversão imperava, com carrinhos de choque, carrosséis e umas boas febras se comiam nas barracas de comes e bebes, ainda lá perdi 50 “paus” num jogo que não me lembro qual.

  Em 7 de Abril de 1973 escrevia: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.

  Um ano e alguns dias depois mudaram-se os tempos, as vontades eram de continuar num país que tinha espaço para todos. Infelizmente assim não aconteceu e, a Nova Lisboa que conheci, foi derrubada ao som de tiros e morteiradas. Hoje só resta a lembrança.


  Em Junho fui para os «Comandos» em Luanda, nunca mais voltei a Nova Lisboa.

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