A Tua Vontade é a Tua Vitória

29.9.08

De Luanda a Cabinda


Dezembro de 1973

  Saio de Luanda, já como Furriel, a caminho de Cabinda, em 11 de Dezembro de 73. Meu destino, B.Caç.11, conhecidos pelos Gorilas do Maiombe.

  A viagem, marítima, decorria serenamente. Dois camaradas meus, conhecidos da EAMA e dos Comandos, faziam-me companhia com destino a um destacamento de rendição individual, algures na floresta do Maiombe.

  Deitado em cima de grades de cerveja, percorria os olhos pelo firmamento pejado de estrelas. A lancha LDG 202 "Alabarda", transportava viveres e bebidas para os aquartelamentos e povoações costeiras até Cabinda.


  O «Donne Moi Ma Chance», canção não oficial dos Comandos, fazia agora sentido. Pedia que a vida desse uma chance de nada acontecer, a mim e aos meus camaradas, durante o tempo que iríamos permanecer no mato.

  Não sabia nada do meu destino, sabia sim que ficava perto do Congo do Mobutu. Se era zona perigosa ou não, só o tempo o diria.

  Uma paragem em S. António do Zaire para descarregar mercadoria. Aproveitei para ir a terra firme (embora tenha nascido junto à orla costeira, eu e os barcos não nos entendemos pois enjoo com facilidade) e conhecer um pouco desta vila perto do rio Zaire. Como os barcos não podiam acostar, a mercadoria era descarregada em batelões e depois seguia para o embarcadouro onde os aguardavam os camiões para carregarem o que lhes era destinado.


  Pareceu-me uma vila muito pequena. Sei que estive num bar junto ao embarcadouro, e enquanto não houve sinal de partida, deambulei um pouco pela zona, as estradas ainda de terra batida, muito sossegada, algumas árvores despontavam mas fora a azáfama junto ao cais nada mais me despertava a atenção. Tantos anos passados, é difícil lembrar todos os pormenores mas fica sempre algo nas gavetas da memória.

  De regresso à lancha, depois de quase doze horas de viagem, clarões alumiavam os céus. Eram dos poços de petróleo, tinha chegado ao meu destino, tinha chegado a Cabinda.


2 comentários:

Anónimo disse...

Só porque em jovem vestiste uma farda e foste e és um comando só por isso tens o meu carinho e a minha admiração beijinho

Anónimo disse...

Cabinda terra bonita, mas muito cobiçada pelas suas riquezas naturais, é pena!
As suas gentes são bastante hospitaleiras, passei lá bons momentos durante uma campanha de tropa no período de descolonização.
Fiz a viagem de Luanda para Cabinda de fragata da Marinha portuguesa.
Regressei para Luanda num avião da força aérea portuguesa (um daqueles aviões do tempo da segunda guerra mundial- o barriga de jinguba?)