1974, a revolução já se tinha dado em Portugal. Em Tando-Zinze, Cabinda, junto ao Mayombe, uma companhia fazia ali o seu poiso. Às notícias vindas do “puto” respondíamos com a continuação das patrulhas pelos trilhos abertos naquela floresta, naquele mar vegetal.
Os interesses partidários engendrados à socapa em Portugal começaram a fazer-se sentir nas províncias ditas ultramarinas.
O apoio dado a um só movimento em Angola pelas altas esferas dominantes pós 25 de Abril, fez com que os nossos quartéis começassem a ser entregues a esse movimento.
Uma delegação do MPLA é recebida no nosso quartel (2 de dezembro de 1974). Nós, os furriéis, aguardávamos serenamente, em frente da nossa messe, o resultado das conversações que estavam a decorrer dentro do gabinete do nosso capitão.
Alguns elementos do MPLA dirigem-se ao nosso encontro. Queriam beber algo fresco.
À primeira reacção de cautela da nossa parte, logo o ambiente se tornou amigável e então olho para um dos que ali estava. Ele sentindo o meu olhar, olhou-me também fixamente e houve da nossa parte algo indescritível, demos um grande abraço para surpresa de todos, os “inimigos” estavam abraçados!
E ficaram a saber toda a história, tínhamos trabalhado na mesma empresa em Luanda, exactamente nas oficinas da "União Comercial de Automóveis" no Bairro da Boavista.
Soube, contado por ele, que a Pide/DGS andava à sua procura para o prender. Assim optou por fugir e foi para as FAPLA.
Olhei para este amigo e agradeci aos deuses o facto de nunca o ter encontrado no campo de batalha frente-a-frente. Um dos dois teria morrido nessa altura.
Na hora da despedida ele ofereceu-me o seu chapéu, hoje, 34 anos passados, ainda o tenho guardado.
Obrigado amigo, estejas onde estiveres!