28 de fevereiro de 1974
Enquanto escrevia para Luanda dizendo que tinha ido a Cabinda levando um grupo de combate e que partiria no dia seguinte para Miconge para onde fora destacado (Miconge era na época, um local muito flagelado pela artilharia inimiga), voava para Luanda, onde iria tirar o curso de minas e armadilhas.
Luanda, minha cidade é linda, é de bem querer, a minha cidade é linda, hei-de amá-la até morrer. Na altura Luanda seria o meu cemitério. Os ventos da história mudaram o curso dos acontecimentos…
Nesse curso aprendi tudo o que era minas e armadilhas. Efeitos e consequências. Como lidar no mato com possíveis fios atravessando a picada, o sentir por baixo do pé o click caraterístico de ter acionado uma mina… e no fim do curso teríamos que apresentar uma armadilha da nossa competência. A minha armadilha era uma caixa de um dentífrico onde o dentífrico seria um explosivo ligado por fios à tampa da caixa. Mal abria a caixa, os fios faziam contacto e detonava o explosivo. Hoje parece cruel, mas na época era a guerra e não se pode estar agora com moralismos bacocos, ou eram eles ou nós. "A Guerra é a Guerra" como bem diz Fausto Bordalo Dias.
Findo o curso fiquei nos Adidos à espera de embarque para Cabinda. Um dia ao apresentar o grupo ao Comandante dei um passo à Comando que até o Comandante que estava perto de mim teve que recuar. Chegou-se ao pé do meu ouvido e perguntou: «Nosso Furriel, você esteve numa tropa especial?» - Sim meu Comandante, estive nos Comandos - «Para a próxima dê o passo à tropa normal que aqui não há Comandos». Até suei.
Andei por ali umas semanas e admirava muito não ser chamado para embarcar para Cabinda, mas como estava na minha cidade, quanto mais tarde melhor.
Um primeiro-sargento de tanto me ver, perguntou-me a razão de lá estar há tanto tempo. Expliquei a razão e ele perguntou-me se tinha entregado a guia de marcha. A guia de marcha? Não - respondi eu. Pois tinha-me esquecido de entregar a guia e no dia 20 de março de 1974, apanho o avião para Cabinda, de volta ao Maiombe, a Tando Zinze.
foto sargento Maurício:
Eu, (?) e Pinto, no quartel de Tando-Zinze.
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