A noite tinha caído sobre o aquartelamento. Cá fora as aves nocturnas faziam-se ouvir naquela floresta densa. A lua cheia corria devagar no céu. As sentinelas, nos seus postos, perscrutavam a mata procurando não ouvir um ruído que lhes alertasse os sentidos. A aldeia próxima dormitava e só aqui e ali se ouviam os latidos dos cães. Nas camaratas os soldados dormiam o sono dos justos, depois de mais um dia de patrulhas e de labuta no quartel.
- Meu furriel, meu furriel – disse alguém abanando-me com firmeza.
- O que é? – Pergunto eu, ainda estremunhado, afastando o mosquiteiro que, sobre a minha cama, impedia-me ser mordido pelos mosquitos mas não pelos miruins, esses mosquitos muito mais pequenos que se infiltravam prontos a mais uma refeição de sangue humano.
- Há terroristas infiltrados no quartel – disse em voz baixa a sentinela.
- Onde é que os vistes?
- Junto à arrecadação do armamento.
Estamos feitos, pensei eu!... Se conseguissem abrir a arrecadação teriam em seu poder o armamento suficiente para nos dizimar.
- Como, quantos e quando os vistes?
- Eram dois, estavam a rastejar em direcção à arrecadação e foi há poucos minutos.
Peguei na minha HK21, já com a fita metida pronta a disparar. O bipé dava jeito para melhor segurar a metralhadora. Com a prática levada dos Comandos a HK fazia parte do meu corpo assim como a minha G3. Fosse para onde fosse, nem por um momento a abandonava. Mesmo quando se ia ao interior do Maiombe buscar lenha, a guarda era montada e ai daquele que se esquecesse dentro do Berliet da arma e colocasse os toros de madeira por cima, tínhamos o caldo entornado, na guerra não podemos facilitar a vida ao inimigo.
Sussurrando aqui e ali, o quartel foi despertando e de pronto ali estávamos para vender caro a vida.
Em grupos íamos saindo das nossas camaratas cada um de nós com o seu grupo de combate.
A cada barulho todo o nosso corpo vibrava e adrenalina subia. Circundámos o quartel e de inimigo nem rastos. As nuvens tapavam o céu tornando a noite escura num quartel já de si em plena escuridão.
Na arrecadação nem vivalma, no paiol idem, junto aos Unimogues e Berliets nada.
De repente dou uma gargalhada. Todos os meus camaradas se entreolharam perante esta minha saída. «Terá enlouquecido? – Pensariam eles». E eu continuava a rir-me que nem um perdido naquela noite onde uma sentinela tinha visto dois vultos rastejando para a arrecadação.
Perante o assombro dos meus camaradas apontei para dois cães que vagueavam no quartel. A lua cheia tinha surgido e batendo em cheio nos cães, a sua luz prolongava as suas sombras parecendo, à distância, dois vultos a rastejar.
Ali estavam os dois terroristas. Por momentos não ganhámos para o susto mas foi bom que assim fosse, tudo está bem quando acaba em bem já dizia Voltaire.
Elogiou-se a atitude do sentinela, pois nada deve ser deixado ao acaso, fomos até ao bar para refrescar as gargantas e as ideias, e depois cada um voltou para a sua camarata. Nessa noite os «Gorilas do Maiombe» tinham-se safado, faltavam ainda muitos mais dias e noites para se safarem de vez!
- Meu furriel, meu furriel – disse alguém abanando-me com firmeza.
- O que é? – Pergunto eu, ainda estremunhado, afastando o mosquiteiro que, sobre a minha cama, impedia-me ser mordido pelos mosquitos mas não pelos miruins, esses mosquitos muito mais pequenos que se infiltravam prontos a mais uma refeição de sangue humano.
- Há terroristas infiltrados no quartel – disse em voz baixa a sentinela.
- Onde é que os vistes?
- Junto à arrecadação do armamento.
Estamos feitos, pensei eu!... Se conseguissem abrir a arrecadação teriam em seu poder o armamento suficiente para nos dizimar.
- Como, quantos e quando os vistes?
- Eram dois, estavam a rastejar em direcção à arrecadação e foi há poucos minutos.
Peguei na minha HK21, já com a fita metida pronta a disparar. O bipé dava jeito para melhor segurar a metralhadora. Com a prática levada dos Comandos a HK fazia parte do meu corpo assim como a minha G3. Fosse para onde fosse, nem por um momento a abandonava. Mesmo quando se ia ao interior do Maiombe buscar lenha, a guarda era montada e ai daquele que se esquecesse dentro do Berliet da arma e colocasse os toros de madeira por cima, tínhamos o caldo entornado, na guerra não podemos facilitar a vida ao inimigo.
Sussurrando aqui e ali, o quartel foi despertando e de pronto ali estávamos para vender caro a vida.
Em grupos íamos saindo das nossas camaratas cada um de nós com o seu grupo de combate.
A cada barulho todo o nosso corpo vibrava e adrenalina subia. Circundámos o quartel e de inimigo nem rastos. As nuvens tapavam o céu tornando a noite escura num quartel já de si em plena escuridão.
Na arrecadação nem vivalma, no paiol idem, junto aos Unimogues e Berliets nada.
De repente dou uma gargalhada. Todos os meus camaradas se entreolharam perante esta minha saída. «Terá enlouquecido? – Pensariam eles». E eu continuava a rir-me que nem um perdido naquela noite onde uma sentinela tinha visto dois vultos rastejando para a arrecadação.
Perante o assombro dos meus camaradas apontei para dois cães que vagueavam no quartel. A lua cheia tinha surgido e batendo em cheio nos cães, a sua luz prolongava as suas sombras parecendo, à distância, dois vultos a rastejar.
Ali estavam os dois terroristas. Por momentos não ganhámos para o susto mas foi bom que assim fosse, tudo está bem quando acaba em bem já dizia Voltaire.
Elogiou-se a atitude do sentinela, pois nada deve ser deixado ao acaso, fomos até ao bar para refrescar as gargantas e as ideias, e depois cada um voltou para a sua camarata. Nessa noite os «Gorilas do Maiombe» tinham-se safado, faltavam ainda muitos mais dias e noites para se safarem de vez!
foto: o nosso quartel em Tando Zinze