Muitos eram os mancebos que demandaram de toda a Angola para a EAMA em janeiro de 1973.
Enquanto os que não eram de Nova Lisboa tiveram que se desenrascar, arranjar quem lhes lavasse a roupa, quarto e local para almoçar e jantar aquando saíssem ao fim de semana do quartel, os de Nova Lisboa tinham os familiares para lá do arame, para recolherem a roupa suja e abastecer de víveres o "armazém" que cada um tinha nos seus armários.
A comida que davam na EAMA não era má mas, de vez em quando, o peixe vinha a "sorrir" pois a carne já não fazia parte da cartilagem que a agarrava.
Com tantos recrutas, muitas foram as camionetas da EVA que a 27 de janeiro "despejaram" das suas entranhas, aqueles jovens sem saberem ao certo ao que iam mas com uma vontade enorme em ultrapassar as dificuldades.
De Luanda para Nova Lisboa, o local de paragem sempre foi no Dondo para um desentorpecer de pernas e refrescar as gargantas. Local onde as massas atmosféricas quentes e frias se chocavam e era um riscar de raios no céu, que fazia com que houvesse muitas demandas de Luanda para ver tamanho espetáculo.
Conforme fomos para Nova Lisboa nos autocarros da EVA, também aos fins-de-semana quando podíamos, fazia-se a viagem de regresso.
Autocarros cheios. Aqui e ali, um jogar de cartas, outros dormitavam e outros nos quais me incluía, estragavam aquilo tudo com cantilenas que nunca mais acabavam e chatas cumó catano.
"Um chapéu aos quadradinhos
Dois chapéus aos quadrinhos
Três chapéus aos quadradiiiiinhos
Quatro chapéus aos quadradinhos..."
... e a lenga-lenga nunca mais acabava, chegava aos cem chapéus aos quadradinhos.
O pessoal barafustava, Sapatos voavam mas nós cansados de tantos chapéus continuávamos desta vez com:
"Se um elefante incomoda muita gente
Dois elefantes incomodam muito mais
Se três elefantes incomodam muita gente..."
... e os "elefantes" continuavam até à exaustão.
Depois entravamos todos na letargia e, através dos vidros, viam-se as árvores, a savana, aqui e ali uma aldeia, e de repente o nosso corpo começava a despertar. O sangue começa a fluir com mais força, os desejos a ficarem descontrolados. Estávamos a deixar a zona fria e a chegar à zona quente. Estávamos a chegar ao Dondo, dali a Luanda era um pulinho.
fotos. camioneta da EVA, Igreja no Dondo e placa toponímica.
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